Fórum A Sabedoria Divina

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O Tao Te King descreve o Tao como a fonte e origem de toda existência: é invisível, mas não transcendente, omnipotente, contudo, humilde; sendo a raiz de todas as coisas. As pessoas têm desejos e livre vontade (por conseguinte, podem alterar a sua própria natureza). Muitos atuam "artificialmente", contrariando o equilíbrio natural do Tao. O Tao Te King pretende levar os discípulos a "voltar" ao seu estado natural, em harmonia com o Tao. A linguagem e a sabedoria convencional são avaliadas com dureza. O taoismo considera-as como tendenciosas e artificiais, servindo-se amplamente de paradoxos para provar o seu ponto de vista. Livia Kohn fornece um exemplo de como Lao Tsé encorajou uma mudança na abordagem, ou voltar para "a natureza", ao invés da ação. A tecnologia pode trazer uma falsa percepção de progresso. A resposta dada por Lao Tsé não é a rejeição da tecnologia, mas a procura do estado calma do Wu wei, livre de desejos. O Tao Te King pode ser l

De acordo com os registos tradicionais, Lao Tsé foi um erudito que trabalhou como curador dos arquivos da corte real de Zhou. Isto dar-lhe-ia acesso livre à obra de Huangdi e outros clássicos daquele tempo. As estórias afirmam que Lao Tsé nunca abriu uma escola formalmente, tendo porém atraído muitos estudantes e discípulos leais. Por vezes, é dito que provinha da aldeia de Chu Jen em Chu. Nos relatos que dizem que Lao Tsé era casado, refere-se que tinha um filho chamado Zong, que se tornaria num soldado célebre. Muitos clãs da família Li traçam a sua ascendência até Lao Tsé, incluindo os imperadores da dinastia Tang. A terceira história colectada por Sima Qian afirma que Lao Tsé se cansou da corrupção moral da sociedade e dos bons costumes em Luoyang e notou o declínio do reino. Foi viver para o Oeste como um eremita nas incertas fronteiras do reino, com 80 anos. Na parte ocidental da cidade (ou do reino), foi reconhecido pelo guarda Yin Xi. Antes de lhe franquear a saída, o guard

A primeira edição do Anfiteatro da Sabedoria Eterna data de 1595 em Hamburgo. É acompanhado por quatro gravuras circulares, coloridas à mão e realçadas com ouro e prata, que são elaborados símbolos alquímicos. Essas placas foram feitas pelo gravador Paullus van der Doort, e o desenho de laboratório do alquimista é do pintor holandês Hans Vredeman de Vries, que usa a perspectiva linear da qual é um dos pioneiros. O retrato que acompanha Khunrath é de Jan Diricks van Campen. Nele, Khunrath mostrou-se um adepto da alquimia espiritual e ilustrou o caminho intrincado, e de muitos estágios, para a perfeição espiritual. A obra espalhou-se especialmente numa versão muito extensa, na qual Khunrath estava a trabalhar quando morreu em 1605, e que foi finalmente publicada em Hanau em 1609 pelo seu discípulo Erasmus Wolfart. O Anfiteatro da Sabedoria Eterna pode ser lido AQUI . ❓ Como Khunrath se mostrou um adepto da alquimia espiritual e ilustrou o caminho intrincado, e de muitos estágio

Khunrath nasceu na Alemanha, em Dresden ou Leipzig, por volta de 1560. Ele pode estar relacionado com outro médico de Leipzig chamado Conrad Khunrath. No inverno de 1570, pode ter-se matriculado na Universidade de Leipzig sob o nome de Henricus Conrad Lips. As incertezas sobre a sua biografia decorrem do seu suposto uso de múltiplos nomes. É certo, no entanto, que se matriculou em maio de 1588 na Universidade de Basileia, na Suíça, obtendo lá o seu diploma de médico em 3 de setembro de 1588. Discípulo de Paracelso , praticou medicina em Dresden, Magdeburg e Hamburgo, e pode ter sido professor em Leipzig. Viajou muito depois de 1588, principalmente ficando na corte imperial de Rodolfo II em Praga. Em 1589, conheceu lá o matemático e astrólogo inglês John Dee . Em setembro de 1591, Khunrath tornou-se no médico pessoal do Conde Rosemberk em Trebon. Lá provavelmente conheceu Johann Tholden , um dos supostos autores dos tratados alquímicos de " Basilio Valentim ". Khunrath mo

A Aurora Nascente - Aurora Consurgens é um tratado alquímico do século 15 famoso pelas ricas iluminuras que o acompanham em alguns manuscritos. A Aurora Nascente - Aurora Consurgens é, em grande parte, um comentário sobre um tratado árabe do século 10, a Tabula Chemica de Senior Zadith Filius Hamuel (ou Senior Zadith, ou simplesmente Senior), ou seja, o alquimista árabe Ibn Umail. Uma má tradução para o latim tinha sido feita já no século 11 ou 12. Este texto é a descrição ( ekphrasis ) dos afrescos da câmara subterrânea de uma pirâmide, na qual há uma mesa de mármore ou esmeralda, gravada com supostos símbolos hieroglíficos, repousando sobre os joelhos de Hermes Trismegisto, o mítico fundador da alquimia. As ilustrações foram então adicionadas para ilustrar o texto na sua versão do Aurora Nascente - Aurora Consurgens . Segundo a Tabula chemica , os pictogramas foram copiados, o que garante a integridade e veracidade do ensinamento de Hermes. A Aurora Nascente - Aurora Consurg

A Aurora Nascente - Aurora Consurgens é um tratado alquímico do século 15 famoso pelas ricas iluminuras que o acompanham em alguns manuscritos. Embora no século passado o autor tenha sido mais comumente referido como "Pseudo-Aquinas", também existem argumentos a favor de Tomás de Aquino , a quem foi originalmente atribuído em alguns manuscritos. O argumento contra a autoria de Tomás de Aquino é que o estilo da Aurora Nascente - Aurora Consurgens não corresponde ao de Tomás de Aquino (exceto na Quarta Parábola, que em estilo e conteúdo é semelhante à "Expositio" em "Symbolum Apostolorum", que é uma palestra oral de Tomás de Aquino). Segundo Marie-Louise von Franz , os seguintes argumentos sustentam a hipótese de Tomás de Aquino ser o autor da Aurora Nascente - Aurora Consurgens : O seu autor conhece intimamente tanto a Bíblia quanto a liturgia, cita pouco os textos alquímicos clássicos e não menciona receitas químicas nem instruções técnicas, o que in

O Deus de Boehme revela-se na realização das suas obras. O teósofo descreve essa revelação progressiva a que nós chamamos de manifestação divina. Este é todo o seu propósito. Ora, Deus manifesta-se através da Sabedoria e na Sabedoria. A Sabedoria está no começo dos caminhos divinos e no seu termo. O perfil da Sabedoria precisa-se a pouco e pouco, como o do Deus do qual ela é o espelho. Para conhecê-la, temos, portanto, que seguir todo o percurso dessa manifestação divina. A Sabedoria aparece a partir do momento em que Deus é verdadeiramente chamado de Deus. É esse momento que, para Boehme, é o primeiro começo. Ele é anterior à criação do nosso mundo. Mas o nosso universo criado é, ele próprio, precedido por um mundo emanado ao qual Boehme chama de natureza eterna . E, para chegar à origem primeiríssima, onde Deus se manifesta na sua Sabedoria, temos que retroceder ainda mais além desse mundo arquetípico. O Livro A Sabedoria na Obra de Jacob Boehme pode ser lido AQUI . ❓ A Sabedo

As especulações modernas sobre o andrógino destacaram uma fórmula que Boehme aplica por um lado a Adão, tal como ele era antes da queda, por outro lado a Cristo, o segundo Adão. Ambos são o ser humano virginal que é o símbolo da humanidade perfeita e a quem Boehme chama em alemão die männliche Jungfrau . Boehme diz deste ser humano que ele é homem e mulher. Ele afirma ao mesmo tempo que não é nem homem nem mulher. Adão é, portanto, esse ser humano perfeito do início dos tempos e Cristo reencarna-o na perspectiva da consumação dos tempos. Se imaginarmos no início um ser perfeito que era quer homem e mulher num único corpo, quer nem homem nem mulher, é de fato por causa daquilo que Adão se tornou posteriormente e por uma projeção num passado primordial. Tendo o homem e a mulher se tornado seres distintos, separados, nós os vemos a princípio reunidos, ou então ainda não eram nem macho nem fêmea. O texto completo de O Ser Humano Virginal encontra-se AQUI . ❓ Ao casal humano correspo

Pierre Deghaye foi professor na Universidade de Caen, onde dirigiu o departamento de estudos germânicos. Além dos seus trabalhos sobre literatura alemã, publicou obras sobre a história das ideias religiosas no seio do protestantismo alemão, em relação com a mística cristã e a filosofia da natureza. Dedicou-se fundamentalmente à teosofia de Jacob Boehme, Friedrich Cristoph Oetinger e Franz von Baader. Na atualidade é colaborador do Projet de recherche du patrimoine littéraire européen da Universidade católica de Louvain. O seu trabalho mais importante é provavelmente La naissance de Dieu ou la doctrine de Jacob Boehme , Paris, Albin Michel, 1985. Também é autor de La doctrine ésotérique de Zinzerdorf (1969), La Philosophie sacrée d'Oetinger (Paris, Albin Michel, 1971), Jakob Böhme (1977, em colaboração com G. Wehr), e Jacob Boehme ou l’obscure lumière de la connaissance mystique (Paris, J. Vrin, 1979, em colaboração com Heinz Schmitz, J.-L. Vieillard-Baron e outros). Recentem

O livro Teosofia Prática é uma introdução à obra de Jacob Boehme escrita por Gichtel. Tem sido publicada como uma introdução às obras completas de Jacob Boehme. Como parte de uma apresentação de alquimia, Boehme foi influenciado pelo sistema contemporâneo dos Irmãos da Rosa-Cruz, que combinava iluminismo, misticismo, astrologia e a própria alquimia. Nesse modelo, Boehme apoiou as suas próprias concepções metafísico-religiosas usando o simbolismo e o imaginário dos alquimistas: por exemplo, a Quintessência, o Ovo ou o Andrógino. Essa aproximação entre religião e esoterismo foi facilitada pela ideia de que as operações da Ars Magna exigiam uma abordagem ascética e mística. O texto completo da Teosofia Prática encontra-se AQUI . ❓ Qual a importância deste resumo do pensamento de Jacob Boehme? E qual é a importância das figuras do Ser Humano Interior? Início » O livro Teosofia Prática

Gichtel tornou-se num ardente discípulo de Jacob Boehme, cujas obras publicou em 1682 (Amsterdão, 2 vols); mas antes da hora da sua morte, ele já tinha atraído a si um pequeno grupo de seguidores, conhecidos como "Gichtelianos" ou "Irmãos dos Anjos", que propagavam certos pontos de vista aos quais ele havia chegado independentemente de Boehme. Buscando sempre ouvir a voz autoritária de Deus dentro deles, e esforçando-se por alcançar uma vida totalmente livre de desejos carnais, como a dos “anjos no céu, que não se casam nem se dão em casamento”, eles afirmavam exercer um sacerdócio “segundo a ordem de Melquisedeque”, apaziguando a cólera de Deus e resgatando as almas dos perdidos, com sofrimentos suportados vicariamente, segundo o exemplo de Cristo. ❓ Quais são os principais pontos da espiritualidade de Gichtel? No que diferem dos de Jacob Boehme? Início » A Espiritualidade de Johan Georg Gichtel

Gichtel nasceu a 14 de março de 1638 (faria hoje 384 anos), em Regensburg na Bavaria, onde o seu pai era membro do Senado. Tendo adquirido na escola um conhecimento do grego, hebraico, siríaco e até árabe, foi para Estrasburgo para estudar teologia; mas, achando as preleções teológicas de J. S. Schmidt e P. J. Spener de mau gosto, entrou na faculdade de direito. Foi admitido como advogado, primeiro em Speyer e depois em Regensburg; mas tendo conhecido o barão Justinianus von Weltz (1621-1668), um nobre húngaro que acalentava esquemas para a reunião da cristandade e a conversão do mundo, e tendo ele próprio conhecido outro mundo em sonhos e visões, abandonou todos os interesse na sua profissão, e tornou-se um promotor enérgico da Christerbauliche Jesusgesellschaft (Sociedade de Edificação Cristã de Jesus). O movimento nos seus primórdios não provocou, pelo menos, nenhuma hostilidade ativa; mas quando Gichtel começou a atacar o ensino do clero e da igreja luteranos, especialmente sobr

O primeiro discípulo de Boehme, após a sua morte, foi Johann Georg Gitchel, que publicou as suas obras em 1682. Entusiasmado com a sua teosofia, procurou reformar o cristianismo na Alemanha, mas acabou tendo que fugir para a Holanda. Fundou uma fraternidade cujos membros eram "anjos" destinados a uma existência purificada das contingências do mundo, e generalizou a proibição do casamento até então limitada aos sacerdotes. Outros discípulos importantes assumiram, desta vez na Inglaterra, a tocha da teosofia Boehmiana: John Pordage e Jane Leade marcaram assim a teosofia do século 17. Mas, ao contrário de Boehme, aderiram à tese da apocatástase (reintegração final de todos os seres em Deus). Na primeira metade do século 18, foi William Law quem, na Inglaterra, melhor representou o teósofo alemão, ao mesmo tempo que defendeu a tese da apocatástase rejeitada pelo mestre. Na Alemanha, a influência de Boehme exerceu-se no contexto do Pietismo , com o qual a teosofia tem algumas a

«Este livro é um verdadeiro Espelho místico da mais alta Sabedoria. O melhor Tesouro que um Ser Humano pode alcançar neste Mundo é o verdadeiro Conhecimento; mesmo o Conhecimento de si mesmo. Pois o Ser Humano é o grande Mistério de Deus, o microcosmo, ou o Resumo completo de todo o Universo. Ele é o Mirandum Dei opus , a Obra-prima de Deus, um Emblema vivo e Hieróglifo da Eternidade e do Tempo. Portanto, o saber de onde ele é, e quais são o seu Ser e Bem-estar temporal e eterno, deve necessariamente ser aquela ÚNICA Coisa necessária, à qual todo o nosso principal Estudo deve visar, e em comparação com o qual toda a Riqueza deste Mundo é apenas escória, e uma perda para nós. Daí Salomão, o mais sábio dos reis de Israel, dizer: Feliz é o Ser Humano que encontra a Sabedoria, e o Ser Humano que obtém o Entendimento, pois a sua Mercadoria é melhor do que a Mercadoria de Prata, e o seu Ganho do que o Ouro Fino. Ela é mais preciosa do que os rubis, e todas as coisas que podem ser desejadas

Boehme acreditava que o Filho de Deus se tornou humano através da Virgem Maria. Antes do nascimento de Cristo, Deus reconhecia-se como virgem. Esta virgem é, portanto, um espelho da Sabedoria e conhecimento de Deus. Boehme vê Maria dentro do contexto de Cristo. Ele não se dirige muito a questões dogmáticas, mas ao lado humano de Maria. Como todas as outras mulheres, ela era humana e, portanto, sujeita ao pecado. Somente depois que Deus a elegeu, com a sua graça, para tornar-se na mãe do seu Filho, é que ela herdou o estatuto de Imaculada. Maria não moveu o Verbo, foi o Verbo que moveu Maria , diz Boehme, para explicar que toda a sua graça veio de Cristo. Maria é "bem-aventurada entre as mulheres", não devido às suas qualificações, mas devido à sua humildade. Maria é um instrumento de Deus; um exemplo do que Deus pode fazer: Não será esquecido em toda a eternidade, que Deus se fez humano nela. Boehme não acreditava que Maria fosse a Sempre Virgem . A sua virgindade, depois d

Segundo o historiador das ideias Sean McGrath, a maior contribuição de Boehme para a cosmogonia está na sua concepção original da vontade de Deus. A vontade divina de Boehme designa a pulsão ou força que produz o ser e, nesse sentido, constitui um princípio ainda mais fundamental e originário do que o próprio ser. É de acordo com o seu livre arbítrio que Deus gera toda a realidade, inclusive a sua. Motor ( primum movens ) da vida do mundo, esta vontade é também motor da vida divina, ato puro pelo qual Deus se engendra e nasce na consciência. Corresponde ao seu desejo de produzir uma imagem e de se dar a conhecer. Nesse sentido, já é uma característica divina, e, portanto, não é como vontade, mas como Ungrund , que o próprio Deus é então definido, de forma negativa. Assim como na teologia negativa, Deus é pensado por Boehme como inefável, sem dualidade ou distinção, mas ao contrário dessa tradição, é Deus como tal – chamado “Divindade” – que se identifica com o nada, com o não-ser, ou c

O problema do mal surgiu em Boehme no contexto da época. A letra da Escritura nada dizendo sobre a origem do mal, o crente não procurou resolver o mistério. Ora, é esse mistério que Boehme tenta abordar graças a uma revelação do tipo gnóstico. Ele escreve à sua maneira uma teodiceia autêntica que justifica tanto a existência de Deus quanto a do mal. Ele não invoca apenas a culpa de Adão para fazer isso. Pelo contrário, ele estabelece a preexistência do mal em relação ao pecado de Adão, que ele interpreta como consequência. É isso que a sua teoria da natureza, concebida no quadro de uma teogonia e de uma cosmogonia, pretende mostrar. Para Boehme, o mal não está em Deus, mas está na natureza que o revela e sem a qual permaneceria para sempre incognoscível. No entanto, o nascimento da luz no ciclo da natureza original mostra como esse mal foi lá derrotado e será novamente. De acordo com Boehme, Deus originalmente cria as trevas, que é o abismo no qual o anjo caído (Lúcifer) será lançado

A Gnose é antes de tudo o conhecimento dos mistérios, mas em Boehme, é semelhante à interpretação dada pelo Gnosticismo. Ela é, de fato, objetivada pelo mito e não constitui conhecimento racional produzido pela atividade do nosso entendimento. Ao contrário, ela é recebida de cima e alimenta a nossa imaginação, a única que pode aproximar-se do que ultrapassa infinitamente a nossa razão. O mito, longe de ser uma ficção ou uma forma inferior de conhecimento, torna-se então no seu modo superior, substituindo assim a ciência dos seres humanos. O pensamento mítico caracteriza-se, em particular, por uma concepção dum tempo do mito, situado nas origens, e pela personificação das forças que presidem ao nascimento dos mundos. Na cosmogonia do teósofo, essas forças seguem um ciclo que começa com o primeiro nascimento do mundo, continua com a sua corrupção e termina após um segundo nascimento. O mito é, neste sentido, a história da cosmogonia primordial e final. Boehme elabora assim uma verdad

Durante o século 17, graças aos editores das obras de Boehme, difundiu-se o uso da palavra teosofia para designar uma corrente esotérica que surgiu, entre outras, no século 16, e à qual podemos associar, na época, Valentin Weigel (1533-1588), Heinrich Khunrath (1560-1605) e Johann Arndt (1555-1621). A teosofia não é uma doutrina propriamente dita, mas uma atitude filosófica e religiosa, e uma forma específica de pesquisa espiritual, que etimologicamente significa "sabedoria de Deus". Com a obra de Boehme, a teosofia adquire, além dum certo pluralismo doutrinário, as suas características definitivas, que Antoine Faivre sintetizou em três pontos: 1) Deus, homem e natureza são associados para fazer objeto de especulação a partir de fenómenos de iluminação; 2) Os aspectos míticos da revelação cristã são privilegiados pelo teósofo, que encena Adão, Lúcifer, os anjos, mas também a Sofia ou o andrógino primitivo; 3) O ser humano possui a capacidade de acessar imediatamente o mun

Jacob Boehme nasceu em Alt-Seidenberg perto de Görlitz. Os seus pais eram camponeses que o enviaram para aprender a ser sapateiro em Seidenberg. Em 1599 mudou-se para Görlitz, onde prosperou como mestre sapateiro. Ainda jovem, Boehme teve visões místicas. Isto repetiu-se à medida que envelhecia, e ele convenceu-se de que os mistérios internos do universo lhe haviam sido revelados. Ele tinha-se, como disse, "envolto na Luz Divina", e decidiu escrever um relato das suas visões, Aurora (1612). Este trabalho chamou logo a atenção do pastor luterano de Görlitz, que tentou expulsar Boehme da cidade como um "vilão cheio de piedade". As autoridades da cidade, no entanto, permitiram que Boehme permanecesse com a condição de que ele não escrevesse mais livros. Boehme não escreveu nada por 5 anos, mas então, encorajado por uma visão, ele sentiu-se novamente compelido a compor obras que exporiam as suas ideias. O resultado foi um número surpreendente de escritos, principalme